COMPOSITION EN LANGUE PORTUGAISE 2006

CONCOURS GÉNÉRAL DES LYCÉES – SESSION DE 2006

(Classes terminales ES, L et S)

Durée: 5 heures

Texte: O mundo em que vivi

L’usage du dictionnaire est interdit

Travail à faire par le candidat

I. ÉTUDE DU TEXTE

1. Apresente e compare as duas personagens introduzidas pela narradora neste excerto.

2. Analise e comente as relações que existem entre a narradora e as outras personagens.

3. Explique de que forma o espaço reflecte a personalidade da avó.

4. Estude a importância que as cores e os cheiros têm nas recordações da narradora.

II. ESSAI

Rose recorda as figuras do avô e da avó e o tipo de relações que tinha com eles.

Em que medida as boas ou más recordações e memórias que temos das coisas, das pessoas ou das situações vividas são importantes para a nossa vida? Apresente a sua opinião numa exposição argumentada e ilustrada com exemplos.

III. TRADUCTION

Traduza para o francês de « O meu avô, homem alto … » até « …sempre de meias pretas. »

O mundo em que vivi

O meu avô, homem alto e magro, de cara larga, ossuda e um tanto avermelhada, olhos claros e quase sempre tristes, tinha o costume de levantar as sobrancelhas espessas quando dizia alguma coisa importante. Isso fascinava-me e por isso me desgostava ver-lhe, por vezes, as pingas da sopa presas no bigode pendente para cada lado da boca. Não ligava com ele, sempre tão apurado, com o cabelo farto, penteado cuidadosamente. « Limpa a boca, avô », dizia eu. « Ora, ora, » respondia ele, um pouco embaraçado.

A avó contrastava com a figura esguia e imponente do avô. Baixa, muito baixa mesmo, tinha a cara miúda sulcada de rugas e usava o cabelo branco rigidamente penteado para cima da cabeça, onde o juntava num puxo redondo, apertado. Preferia vestidos escuros, que protegia nas lidas domésticas com um avental cor de cinza.

Eu, a julgar pelas velhas fotografias, não passava duma menina frágil, de cabelo louro, de feições infantilmente lisas. Nada mais descubro que valha a pena destacar.

Vivíamos os três numa pequena casa com uma varanda deitada sobre a rua, coberta com vinha. Ali minha avó passava as tardes de Verão a fazer meia ou a costurar. Ao certo não me recordo se costurava, mas suponho que sim, pois não me lembro de costureira alguma que a tivesse substituído nesse serviço. Mas seja como for: que fazia meia nunca o poderei esquecer. Vejo-a sentada na cadeira de espaldar, as agulhas a bater desembaraçadamente, enquanto observava o que se ia passando na rua. Tão acostumada estava a fazer meia que nem precisava de olhar. Aliás, as meias eram sempre pretas, infalivelmente pretas, fossem para ela própria, para o avô ou para mim. Por isso eu, apesar de tão pequena ainda, tinha de andar sempre de meias pretas. Isso arreliava-me, porque as crianças com quem convivia não usavam meias pretas e queria ser igual a elas. Cheguei a falar à avó nessa minha mágoa, mas respondeu-me:

– Não digas tolices, Rose. Se as outras crianças não usam meias pretas é porque as mães não sabem ser práticas e económicas.

Duas palavras que, cedo, aprendi a detestar: prático e económico.

Da varanda entrava-se por uma porta alta para o corredor afunilado, e das duas plantas, em vasos pintados de roxo, a cada lado da porta, consigo lembrar-me bem do cheiro triste, quase fúnebre. Talvez cheirassem assim por nunca darem flores ou por as folhas serem tão escuras. Mas como adivinhar os sentimentos e as reacções das plantas? O armário enorme, encostado à parede, também se me gravou nitidamente na memória. Castanho, brilhante como um espelho, imponente pelo tamanho, era-me misterioso. Só a avó lá podia mexer. Abria-o com uma das chaves que trazia, num molho, no bolso do avental. Por vezes chamava-me para me mostrar o que considerava a coisa mais preciosa de uma dona de casa: a roupa branca. A dela era de linho caseiro, « bonita e resistente », como dizia, e ainda profetizava que eu, depois de crescida e também boa dona de casa, deleitar-me-ia com os lençóis de entremeios feitos por ela em solteira, com as toalhas, toalhinhas, guardanapos, toalhas de rosto e panos de cozinha. Eu bem me esforçava por conseguir apreciar aquela brancura, mas o único encanto que lhe encontrava era o cheiro. É que a avó costumava meter saquinhos com alfazema por entre as peças de roupa e isso associava-as a campos e relvados floridos. Do outro lado do armário ficava a sala de visitas, sala de tão grande solenidade que a avó, sempre que lhe pedia para me deixar lá entrar, respondia com um « não » e só cedia perante a intervenção do avô: « Vá, Ester, deixa-a entrar. Ela gosta tanto ». Capas brancas encobriam as cadeiras e o sofá, mas eu bem sabia: por baixo era tudo de veludo azul. Levantava uma ponta das capas tristes e acariciava o veludo, macio ao tacto e azul como o céu em dias de Verão. Certa vez perguntei à avó porque é que não tirava os panos feios para pôr à vista a mobília bonita. Ao que ela, rancorosa, retorquiu:

— Que é que percebes disso? Só sabes estragar. Um dia, depois de eu ter fechado os olhos para sempre, tu e o resto da família hão-de agradecer-me ter tido amor às minhas coisas. E se te couber a ti a mobília azul, podes tirar-lhe as cobertas. Quando estamos mortos, já não há nada que nos possa incomodar.

Palavras frias como a própria morte.

Aliás, não cheguei a herdar a mobília azul.

Ilse Losa, O Mundo em que vivi, Ed. Afrontamento, 1987.


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